Bordas da lesão do tendão supraespinhal (setas) distantes do osso (local de origem).
Definição
A lesão do manguito rotador é um problema extremamente comum que cursa com dor na articulação do ombro. Acomete mais o sexo feminino, na faixa etária acima dos 40 anos. Pode ocorrer de forma bilateral também. Ele é formado pelos tendões supraespinhal, infraespinhal, subescapular e redondo menor.
A ruptura normalmente se inicia na parte interna do tendão, denominada parcial articular, mas também pode ocorrer na parte externa (bursal). Ela pode progredir até chegar ao estágio de lesão completa de um ou mais tendões. O mais acometido é o supraespinhal. A artrose do ombro associada a tais lesões recebe o nome de “artropatia do manguito rotador”, o que pode ocorrer nos estágios finais da doença.
Causas
O motivo do surgimento da doença é multifatorial, podendo ocorrer por fatores biológicos, mecânicos e traumáticos. As alterações degenerativas também participam da gênese da doença, além de possível influência genética.
É importante citar que existe um local na articulação do ombro chamado “espaço subacromial”, que se diminuído, por aumento do conteúdo ou diminuição do continente, pode ocasionar atrito nos tendões e, consequentemente, lesões. Isso se denomina “Síndrome do impacto”.
Quadro clínico
O principal sintoma é a dor crônica, podendo cursar com episódios de agudização, principalmente após algum trauma. A dor ocorre na face lateral do braço e nem sempre no ombro, o que se leva a realizar ressonância do braço, de forma desnecessária. A dor noturna é típica desse tipo de lesão.
A função do ombro acometido, normalmente, está comprometida, principalmente em movimentos acima do nível do ombro. Certas atividades cotidianas podem estar prejudicadas pela dor, como pentear o cabelo ou vestir uma roupa.
Dor na face lateral do braço.
Exames de imagem
Inicialmente, radiografias do ombro devem ser solicitadas em incidências apropriadas. Alguns sinais indiretos da doença podem aparecer. Exames de ressonância magnética auxiliam o médico na confirmação diagnóstica, bem como na avaliação do tamanho da lesão, da retração tendinosa e do grau de atrofia e infiltração gordurosa do(s) músculo(s) envolvido(s), dados primordiais na conduta a ser adotada.
RM com lesão parcial articular do tendão supraespinal em 90% de sua espessura (seta).
Tratamento
A lesão do manguito rotador não cicatriza sozinha, porém nem todas necessitam intervenção cirúrgica. A escolha do tratamento deve ser baseada pela(o):
- intensidade da dor;
- perda da função do ombro;
- tipo de lesão;
- tamanho e retração da lesão;
- grau de atrofia muscular e infiltração gordurosa;
- nível de atividade;
- idade biológica do paciente.
As lesões parciais podem melhorar com tratamento não cirúrgico, por meio de reabilitação, medicações e fortalecimento muscular. Na falha dessa modalidade terapêutica por 3 a 6 meses, o tratamento cirúrgico está indicado. Algumas dessas lesões, entretanto, principalmente se apresentar extensão maior que 50% de sua espessura, podem ser de indicação cirúrgica direto.
Nas lesões completas, em que toda extensão do tendão já se rompeu, o tratamento cirúrgico deve ser realizado pelo risco de progressão, principalmente em pacientes ativos. Deve se operar enquanto existe a chance de reparabilidade do tendão ao seu local de origem, no sentido de se obter sua cicatrização. Existem lesões, entretanto, que já são irreparáveis pela falha no diagnóstico ou demora na busca por um especialista. Assim, a indicação cirúrgica deve ser individualizada.
O procedimento de reparo do tendão com âncoras e fios de sutura pode ser realizado por artroscopia, que é uma técnica menos invasiva que a cirurgia aberta. Dentre as vantagens, temos: avaliação mais detalhada das estruturas intra e extra-articulares, menos dor pós-operatória, menor risco de infecção e melhor estética. Essa modalidade terapêutica permite se realizar toda a cirurgia por meio de portais, que são mini-incisões na pele, aparelhos especializados e câmera de vídeo. O tempo de imobilização pode variar de 4 a 6 semanas, dependendo do tamanho e da qualidade do tendão reparado, bem como da técnica de sutura empregada e do resultado obtido no intra-operatório.
O inicio do fortalecimento muscular após o reparo artroscópico não deve ocorrer antes de 4 a 6 meses, para que se tenha um tempo suficiente para a cicatrização biológica do tendão no leito ósseo. Frisa-se que a principal complicação dessa cirurgia é a re-ruptura do tendão reparado. As tarefas que exijam carregar peso com o braço operado devem ser evitadas. Dessa forma, os cuidados precisam ser redobrados no pós-operatório para que isso não aconteça.
Ilustração da técnica de sutura do tendão supraespinhal (suture brigde).